domingo, 24 de junho de 2012

Legado


Texto publicado dia 16/12/2007 e revisada dia 23/06/2012

Legado.

Escuto vozes que me arrepiam a alma
E vejo olhos que me afligem a consciência.
No furacão de meus temores os mais vigentes são os que não posso ver,
seus legados ainda cobrem nossas cabeças e
o sangue derramado ainda mancha de rubro nossa tão passageira esperança.

Até quando veremos tão heróicos sacrifícios atirados no lago negro do esquecimento
E o sangue derramado lançados no mar,
mar que já não é mais azul e sim vermelho, o mar da indiferença.

Resistiremos nós a este desafio que como gigante se ergue a nossa frente?
Sim! Resistiremos! Porque também agigantada será nossa coragem,
e a exemplo do pequenino Davi, num gesto de tão estimável coragem
atirar-lhe também uma simbólica pedra e derrotar assim tão vil gigante iremos.

E a despeito dos fracos e covardes
Que como pedras se espalham pelo caminho,
Com coragem de heróis e a grandeza da justiça lutaremos.

Erga-se gigante dos pés de barro
A despeito da dor a ti vencermos
E assim escrever iremos se preciso for com nosso próprio sangue também nosso legado.

ASS: Michel M. Damasceno.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

As tardes mais belas.


Texto publicado dia 10/12/2007 e revisado dia 15/06/2012


As tardes mais belas.

Aqueles eram dias de paz, uma paz que nem tão cedo voltaria sentir. Agora não me dedico a descrever um único acontecimento, não, agora aspiro descrever e me pergunto se terei palavras para isso, um ano inteiro.
Os dias eram os mais belos, os meses mais longos e gostosos as estações mais agradáveis, o verão mais quente, o inverno mais aconchegante, a primavera mais bela e o outono inesquecível. O ano era 2003, eu um jovem de apenas 15 anos, o cenário principal era minha escola primaria. Um prédio de três andares com uma fachada azul, um mini pátio de pedra cimento a frente com duas grandes árvores, ao lado mais um pátio com mais uma imponente árvore, foi debaixo daquela arvore que dei meu primeiro beijo, esse pátio também de pedra cimento dava acesso para a quadra esportiva, um grande espaço plano com demarcações brancas, um telhado de metal branco, e atrás a horta da escola com outras enormes árvores.
Acho que todos os anos que vivi ali foram bons, porém aquele de longe foi o melhor, eu estava na oitava série último ano de ginásio. E           u havia estudado com a mesma turma até aquele ano, porém uma coisa inesperada aconteceu, eles diminuíram o número de turmas e dissolveram uma das outras turmas, e justa a turma que fora nossa rival desde a quinta série. Pois esta se juntou na nossa turma e se me houvessem dito que isso poderia dar certo naquela época eu diria que essa pessoa era louca, porém deu certo e muito certo, aquela foi a melhor turma de todos os anos de escola.
 Me lembro que havia sempre um clima de paz e simplicidade na turma, as tardes depois das aulas íamos para uma das quadras de futsal de um lugar próximo, íamos todos garotos e garotas, eu era o responsável pela bola e as vezes tinha que dar uma fugidinha da aula de matemática para pega-lá em minha casa, acho que nem nessa época eu era fã de matemática.
Jogávamos durante horas até o crepúsculo, a luz do sol alaranjada batia na quadra que ficava na beira de uma auto-estrada e sentados no chão sujos, suados e exaustos olhávamos os carros passando e conversávamos sobre tudo, falávamos todos juntos porém numa mesma conversa, como um coro. Depois pegávamos nossas mochilas e caminhávamos em direção as nossas casas pela ciclovia que ficava ali perto, a luz do sol laranja iluminava nossos rostos e seguíamos juntos como um bloco em direção a casa eu infelizmente era um dos primeiros a abandonar o grupo, nos despedíamos e ficava uma certeza silenciosa de que nos veríamos no dia seguinte.
No inverno quando quase sempre chovia não íamos jogar, íamos para o shopping, íamos de metrô, brincávamos no caminho, andávamos por horas por lá e depois íamos embora. Durante o outono a escola ficava linda as folhas caiam e mudavam de cor a horta ficava cheia de folhas secas as tardes ficavam ainda mais bonitas e principalmente emocionantes porque era quando começava a temporada do inter-salas, era uma grande competição de futsal entre todas as turmas da escola e gerava muita rivalidade, a oitava série tinha a tradição de sempre ganhar, e naquele ano a obrigação era nossa.
A escola parava, as turmas eram liberadas mais cedo e todos os alunos sentavam nos poucos bancos em volta da quadra para assistir os jogos, outros subiam nas arvores, mas a maioria ficava grudada nas grades gritando, o que fazia aquilo parecer um caldeirão. Meu time o melhor sempre, eu no gol posição oficial, ganhamos aquele campeonato numa emocionante final contra a oitava série da noite, ainda me lembro dos rostos colados nas grades gritando sem parar, mas um aparecia mais que os dos outros para mim o de uma certa mocinha.
Anos de inocência, o ano foi correndo tão agradável que mal percebíamos o tempo passar, quando não ia para a escola eu até ficava triste, até brigava para ir, os professores eram geniais ou quase todos, acho que naquele ano descobri um certo,        (pequeno ainda) declínio para as ciências humanas. Foi naquele ano que pela primeira vez que ouvi falar de comunismo, ainda me lembro das palavras do professor de geografia “Esse negócio de comunismo é a maior roubada, isso é os caras entrarem na sua casa e botarem meia dúzia de mendigos para morarem com vocês”, eu não perdôo esse professor por isso, pois falando para crianças pobres que viviam em uma favela e que quase não tinham acesso á outra fonte de informação ele deveria ter mias responsabilidade, é certo que ele podia ter sua própria opinião, porém se aproveitar dessa posição para mentir-lhes assim é de uma covardia tremenda. Descobri mais tarde, também graças a um professor de geografia que as coisas não eram bem assim.
As tardes foram passando rápidas e em certo período do ano o time da escola começava a se reunir para treinar e eu ficava lá até dez, ás vezes onze horas da noite, minha mãe ficava doida. Foi um ano memorável de lutas com glórias, de vitórias completas não meias vitórias. De algum jeito parecia que tudo que eu fazia dava certo, sei lá era assim, porém o ano terminou e me despedi daqueles que como nunca foram felizes ao meu lado, tanta gente boa naquela turma.
Hoje quatro anos depois, mais da metade dos garotos estão mortos, morreram no trafico ou vitima dele, nenhum esta na faculdade, (inclusive eu RSRSRSR)* das garotas uns 80% tem ou está para ter filho. A maioria dos sobreviventes não cresceu muito, continuam sem aspirar nada maior que agüentar as agruras que a vida na favela da Pedreira lhes pode oferecer, para uns é afastar os filhos do tráfico, para outros sobreviver mais um dia no tráfico, para outros seguir saindo ás 5 da manhã e voltando ás 10 da noite para trazer ao menos parte do pão de cada dia.
Porém o pior de tudo é saber que eles podiam ter tido um futuro diferente do que esse que a vida vai lhes encaminhando, saber que eles tinham um potencial tão grande, de que não se trata e nunca se tratou de capacidade individual, porque em realidade eles nunca tiveram uma chance e o sistema se encarregou muito bem disso.  Agora muitos estão mortos, ou no crime, ou pais e mães prematuros, isso eu jamais perdoarei, por eles e que se entenda por eles não só meus eternos companheiros de turma mais todos os jovens do país, que sem oportunidades tem esses mesmos trilhos a trilhar.
É por eles que luto. Luto por uma sociedade em que jovens tenham futuro, para que a humanidade possa tirar em fim seu melhor, luto por uma sociedade igual e comum a todos, por eles, principalmente pelos que estão mortos. Por vocês, que vitimas dessa chacina, se entregaram há um dos ramos mais lucrativos do capital em busca de algo que a pátria amada Brasil não lhes deu, por vocês amigos que cristos não reconhecidos fizeram apenas lutar por uma vida mais digna.
Por todos os jovens do Brasil, melhor, por todos os jovens da América Latina, por todos os jovens da África e da Ásia, por nós eu grito com uma força que meu corpo mal pode suportar, SOCIALISMO OU MORTE !!!!!!!! VENCEREMOS!


* Hoje dia 15 de junho de 2012 me encontro na faculdade, estudo na Escola Latino Americana de Medicina, após haver passado na fraude que é o vestibular Brasileiro, o filho de um vendedor de sapatos não era capaz de arcar com os custos de uma universidade “pública” no Brasil. Foi então que consegui uma bolsa de estudos para a ELAM, em Cuba, um país que forma médicos e médicas de países pobres e que não teriam condição de estudar medicina em seus países. Um país que mesmo bloqueado e açoitado por todos os lados é o único país hoje por hoje que em vez de exportar guerra, seja econômica ou militar, exporta sim médicos e profissionais nas mais diversas áreas. Sem cobrar nada, dão casa, comida, estudo e condições de estudo e o único que se pede é que quando estes jovens regressem a seus países regressem dispostos a ajudar o povo e não a serem só mercadoria no mercado de trabalho, enchendo seus bolsos por haverem tido o privilégio que muito poucos na América Latina tem. E hoje sou o único universitário daquela turma de ginásio do Colégio Escultor Leão Velloso, no bairro da Pavuna, no Rio de Janeiro. E levo essa responsabilidade, tanto a que devo moralmente a Cuba quanto a que devo moralmente a meus companheiros de que meus estudos aqui serão para ajudar ao povo e para fazer de minha vida um instrumento para criar um Brasil, um continente e um mundo mais justo. Isso eu devo ao meu povo e em especial a vocês caros companheiros.   

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Estou morrendo


Texto publicado dia 01/12/2007 e revisado dia 14/06/2012


Estou morrendo...
morro a cada vez que vejo um semelhante no relento estar
morro a cada vez que uma injustiça sou obrigado a presenciar
morro a cada vez que uma injustiça não posso evitar
Estou morrendo...
morro um pouco mais a cada dia, e a cada dia vejo a morte chegar, não para mim mas para a humanidade
morro toda vez que vejo um humano explorado ser, sem nem saber que explorado está a ser.
morro toda vez que vejo um jovem sua cabeça baixar.
morro a  cada tapa na cara...
morro a cada tiro no peito do inocente...
morro com cada inocente vítima dessa chacina intitulada nova ordem
Estou morrendo... 
morro sobre o falso signo da falsa democracia
morro junto com cada criança
ahh e são tantas...
morro com todos os famintos
morro com todos os esquecidos
morro junto com cada árvore derrubada
morro com cada camponês expulso de suas terras
morro com cada homem, mulher e criança vitimas do capital
ahh e morro tantas vezes...
estou morrendo...
morro com cada índio
morro com cada um que tomba na luta
morro com cada humano, acho que morremos todos.

Porém 
vivo!
Vivo, nos que seguem a luta
Vivo, nos que acreditam no fim da desigualdade
e que os chamem de utópicos mais vivo neles
vivo, em cada trabalhador honesto
ahh e como vivo...
vivo, em cada soldado do povo
vivo, no sonho que já não é sonho é realidade
vivo, na verdade
vivo, no futuro
vivo, na luta
porque como eu os que morrem seguem vivos para sempre nos que lutam.
e sempre vai haver os que lutam porque estamos todos juntos,
dizem que não podemos vencer ?
então se preciso for vamos mostraremos que ficaremos felizes em morrer lutando...
Porque assim viveremos para sempre. 
Michel M. Damasceno.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

FILHO


Antes da poesia me vejo obrigado a fazer um comentário, essa poesia “Filho” foia primeira poesia que escrevi. Tinha apenas 17 anos quando o fiz e tentei refletir nessas linhas que seguem, um pouco do sentimento de dúvida, indignação e revolta que sentia por viver no mundo em que vivia.
De certo modo vai aí refletido um pouco da inocência daquele garoto sonhador, inocência que em medida benefíciosa tentei conservar, vai refletido aí parte da minha vida.
Aí estão as primeiras linhas que escrevi com um objetivo de denuncia e rebeldia, a primeira poesia onde pude perceber que minhas letras poderiam ser usadas como uma arma, onde aprendi o quase carnal prazer de escrever. Bogo diz que “Nascer é um acontecimento entre dois caminhos...” de certo modo aí foi onde nasci nesse largo caminho dos que buscam um mundo melhor.

Texto publicado no dia 18/11/2007 e revisado dia 11/06/2012


Filho.
Filhos! O que fizeram conosco!?
Será este o final? Será que assim termina a estrada?
Deus! Onde está você? Onde foi você? Quem é você?

Tão sombria e cruel a vida que os deu você senhor?
Se teus olhos não estão fechados para que não veja, por que então viras tu o rosto?
Se seus ouvidos não estão bloqueados para que não ouça, por que então ignora o choro, o soluço e os gritos e gritos do povo teu?
Os seus braços não estão atados para que possa ajudar, mas onde estas tu ó senhor dos exércitos?

Até quando a covardia trancara os povos nesta prisão sem grades?
Até quando filhos! Estaremos inertes sendo mortos nas esquinas e nos guetos?
Passando fome, vendo o sagrado fruto da terra indo aos vermes e nunca a nós?
Ouvindo mentiras cruelmente contadas? Contadas para que não possamos nunca conhecer a verdade.

Este futuro desgraçado a nós reservado, reservado a nós filhos do trabalho!
Sem Educação, sem saúde, sem emprego, será assim o destino?
NÃO! NÃO! NÃO!
Não filhos, não podemos desistir.

Eles nos dizem que somos baratas, MAS É MENTIRA!
Nos forçam a morar em lugares que são como as sombras do inferno, onde dividimos o lugar com os ratos, onde há maus que não se curam!

E ai de tu filho se não quiserdes, tomam-lhe a vida e chamam-lhe de baderneiro, de assassino, de subversivo.
E se a revolta for grande, o castigo vem com as forças do inferno do norte, com seus fantoches imperiais, tiram-lhe o direito que eles mesmos dizem querer levar, matam sua liberdade.

NÃO!
Filhos dizem que temos muito a aprender, dizem que nosso momento chegará, mas não vai chegar!
Se quiser filho uma mão que te tire das sombras do mundo, olhe para sua própria mão, e lembre-se que nela e só nela você pode encontrar a ajuda para suas doenças, sua fome, sua agonia!

Sim filhos, não esperem um cavalo branco dos céus, porque este não vem!
A vitória tem outra cor, tem a cor vermelha do sangue sacrificado no passado, sacrifícios que não serão em vão, pois os verdadeiros filhos da liberdade ainda vivem, mesmo sufocados e escondidos, AINDA VIVEM! AINDA HÁ UMA ESPERANÇA!

Dizem que não podemos vencer, ficaremos felizes em morrer lutando.